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Abebe Bikila

Por Leandro Berganton

Abebe Bikila fez história ao vencer a Maratona Olímpica de Roma em 1960, correndo descalço e quebrando o recorde mundial, simbolizando determinação e superação.
Abebe Bikila

Abebe Bikila, um dos maiores maratonistas de todos os tempos, correu a Maratona Olímpica de Roma em 1960 descalço, gravando seu nome na história do esporte de uma maneira que ninguém jamais esqueceria. A decisão de correr sem calçados não foi apenas uma questão de preferência ou conforto; foi uma declaração silenciosa, mas poderosa, que ressoaria no mundo todo.

A Jornada até Roma

Bikila nasceu em uma pequena aldeia na Etiópia em 1932. Criado em uma nação rica em história e tradição, ele cresceu em um ambiente onde a corrida fazia parte da vida cotidiana. Caminhando e correndo longas distâncias descalço, ele desenvolveu uma resistência impressionante desde jovem. Sua introdução ao atletismo, no entanto, veio apenas quando se juntou à Guarda Imperial Etíope, onde seus talentos começaram a florescer.

A preparação para os Jogos Olímpicos de Roma foi intensa. Apesar de ter começado a correr competitivamente tardiamente, Bikila logo mostrou que tinha algo especial. Seu treinador, o sueco Onni Niskanen, percebeu isso e começou a moldar Bikila em um atleta de classe mundial. Mas mesmo Niskanen não poderia prever o que aconteceria em Roma.

A Decisão de Correr Descalço

Quando chegou a Roma, Bikila enfrentou um problema que poderia ter arruinado suas chances antes mesmo de a corrida começar: as sapatos fornecidos pelo patrocinador da equipe etíope não se ajustavam bem. Desconfortável com os sapatos disponíveis, ele decidiu, corajosamente, correr descalço, exatamente como havia treinado durante anos na Etiópia.

Naquela época, correr uma maratona descalço era quase impensável, especialmente em uma competição de tão alto nível. A maratona olímpica é a prova de resistência definitiva, uma jornada de 42,195 km que desafia não apenas o físico, mas também o espírito de um atleta. Correr sem a proteção dos sapatos em ruas pavimentadas e calçadas irregulares parecia uma missão suicida para muitos. No entanto, Bikila via a maratona como uma extensão de si mesmo, e correr descalço era a forma mais natural de conectar-se à corrida e ao ambiente.

A Corrida

No dia 10 de setembro de 1960, Bikila alinhou-se com outros 68 corredores no ponto de partida da maratona em Roma. O percurso sinuoso levava os corredores pelos marcos históricos da cidade eterna, incluindo o famoso Coliseu. À medida que a corrida avançava, Bikila manteve um ritmo constante e controlado, correndo sem expressar qualquer sinal de fadiga ou dor.

A multidão observava, perplexa, aquele homem descalço, que parecia flutuar sobre o pavimento, sem deixar-se abalar pelas pedras e irregularidades do caminho. Bikila, no entanto, estava concentrado, focado em sua meta. Enquanto outros corredores, inclusive favoritos, começavam a ceder ao cansaço, ele manteve seu ritmo.

Quando a corrida se aproximava do final, Bikila começou a acelerar, como se apenas estivesse começando sua jornada. Com uma serenidade impressionante, ele ultrapassou o marroquino Rhadi Ben Abdesselam, o último corredor que restava à sua frente. Nos metros finais, Bikila se distanciou, correndo sob o Arco de Constantino, um dos marcos mais icônicos da antiga Roma, para conquistar a medalha de ouro.

O Tempo e o Significado

Bikila terminou a maratona com um tempo recorde de 2 horas, 15 minutos e 16 segundos, quebrando o recorde mundial anterior e se tornando o primeiro africano a ganhar uma medalha de ouro olímpica. Sua vitória não foi apenas uma conquista pessoal; foi um momento histórico que simbolizou o triunfo de uma nação e de um continente muitas vezes subestimado.

A imagem de Bikila cruzando a linha de chegada descalço, erguendo os braços em vitória, tornou-se um símbolo de determinação, coragem e superação. Ele não apenas venceu a corrida; ele redefiniu o que era possível no esporte, mostrando ao mundo que as limitações existem apenas na mente.

O Legado de Bikila

A vitória de Abebe Bikila em Roma foi mais do que um triunfo esportivo; foi um marco cultural e político. Para a Etiópia, um país que na época ainda estava sob a sombra do colonialismo europeu, a vitória de Bikila foi um momento de orgulho nacional. Ele mostrou ao mundo que a África, um continente muitas vezes negligenciado, tinha talentos excepcionais que poderiam competir no mais alto nível.

Bikila continuou sua carreira de sucesso, defendendo seu título olímpico em Tóquio, em 1964, desta vez calçado, mas a vitória em Roma permanece como seu momento mais icônico. Ele provou que o espírito humano pode superar qualquer desafio, mesmo nas circunstâncias mais difíceis.

Abebe Bikila faleceu em 1973, mas seu legado vive. Sua corrida descalço em Roma continua a inspirar atletas em todo o mundo, lembrando-nos de que a verdadeira força vem de dentro. Sua história é um testemunho de que, com coragem e determinação, qualquer obstáculo pode ser superado, e qualquer sonho pode ser realizado.

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